sexta-feira, 23 de maio de 2008

Entrevista com DJ Dolores.



Helder Aragão, o famoso e queridíssimo DJ Dolores, me concedeu uma entrevista super descontraída, no sábado 16 de maio. A conversa foi por conta de uma pesquisa em que eu e minha amiga Saliha Rachid estamos finalizando, intitulada: "O Universo dos DJ's - Uma Arte de Transformação". Assim, não poderíamos perder a chance de conversar com o simpatissíssimo DJ Dolores, o qual fez uma apresentação maravilhosa no REMIX-SE, projeto este que tá rolando todos os sábados no pátio do ICBA - corredor da Vitória- gratuito, dando início às 17h, e sempre rolando muita música boa e conversas fiadas. Bom, avistei o rapaz sentado, sozinho, aguardando o momento de sua apresentação, na verdade, estava ele, uma garrafinha de cana, e um cigarro. E eu, cheguei de mansinho, me apresentando e tals, disse que gostaria de ter uma conversinha rapinha, sobre um projeto assim assim assado, e nos sentamos numa mesa, ao som do DJ Big Bross, e cervejinhas e cigarros postos à mesa. Bem, na verdade não deu tempo de fazer metade das perguntas que eu queria, e com a coisa inusitada, muitas questões não me vinham em mente..., mas, ainda bem que conversei com um cara super inteligente, que foi capaz de me dá muita informação sem muitas perguntas. Então, aí vai para vocês que curtem DJ Dolores, que está com o novo CD lançado, chamado "Aparelhagens". E como diz baiano: "É BALA REI!!!"



eu -DJ Dolores surgiu pela paixão à música brasileira?

ele- Eu sempre gostei de música! Para quem gosta de música não tem esse negócio de nacionalidade. Acho terrível alinhar a música com a idéia política ou geografia de seu país, isso acaba gerando discursos regionalistas terríveis. Eu gosto de música e gosto de atitudes, de música que representa a atitude das pessoas. Isso é muito mais importante do que ser brasileiro, ou húngaro, ou americano. Eu fiz parte do núcleo inicial do Movimento Mangue Beat (Bit). Éramos um grupo de amigos que nos encontrávamos lá em casa todos os dias pra ouvir música, cada dia um levava discos novos, fita cassete. Então tínhamos essa curiosidade por música de modo geral. Não era uma coisa específica e nem mercadológica, não era assim: “Ah o que ta fazendo sucesso?” pelo contrário, nós queríamos saber o que tava acontecendo de diferente no meio musical, o que as pessoas estavam fazendo pelo mundo. Na época, eu, Chico Science, Jorge du Peixe, e Babu que trabalha com tecnologias de computador, todos éramos DJ’s, já que ninguém tinha banda naquela época. Eu to falando do final dos anos 80. Então, a maneira de nós nos aproximarmos da música cada vez mais, era ser DJ. E aí, passaram-se os anos, sempre perseguindo a mesma idéia, até que um dia eu me tornei profissional, ganhando mais dinheiro com música, pagando minhas contas através da música, pois com a profissão que eu tinha na época não me deixava fazer isso.

eu- Para você, de que forma o DJ atua ou pode atuar na vertente da transformação social?

ele - O Hip Hop tem um discurso mais explícito neste contexto, que é o trabalho contra as diferenças sociais, injustiças, etc. Mas, vejo que na maioria das vezes, é um discurso muito limitado. A função de aglutinar gente em torno de música, para definir vida social, não concordo, pois para mim, isso já está por natureza, no conceito de você ser DJ, de fazer festas. Não precisa você fazer parte de algum grupo ou de algum tipo de cultura específico para que você trabalhe com o social. Se você prestar atenção na história do tecno, da house music, do jango, começa com produtores de um grupo de imigrantes de classe baixa, homossexuais,e/ou negros. E, a música é uma espécie de reversão para estas pessoas. Toda a cena do cara que era de Nova Iorque, dizendo que era uma cena praticamente latina, gay e negra, começou por causa da música, da house music. Isso fortaleceu o orgulho, o orgulho negro, o orgulho latino, o orgulho gay. Então, isso pra mim é tão movimento social quanto você falar de injustiças, de que está sendo perseguido, etc. Eu acho até que é mais profundo, pois estamos lhe dando com formações que vem do seu espírito, daquilo que você assume como identidade, seja ela qual for, no caso estamos falando de identidades discriminadas, perseguidas, mais difícil do que a coisa do cara pobre, o cara de classe baixa. Então, por mais frívolo que pareça, quando você se dispõe a tocar, em escolher um repertório underground, diferenciado, que esprima o sentimento daquelas pessoas ou grupo social, isso é por natureza uma coisa super importante, é trabalhar com o social. É uma coisa politicamente muito forte, pois estamos lhe dando com a política do indivíduo.



eu- Quais são suas maiores influências musicais, e como que elas agem na construção do seu repertório?

ele - A coisa do nordeste é mais presente, mas quando trabalho como DJ, isso passa um pouco longe. Como DJ eu gosto de tocar muita música underground, pois pra mim o que interessa é justamente despertar esta visão, é mostrar às pessoas que não existe esse estereótipo da música eletrônica, da boate, de clube, que tem que ser tecno ou house, que são definidos por uma questão muito industrial/comercial. Eu gosto de apresentar cena de eletrônica que fuja disso, que fuja de todo esse estereótipo. Então, o meu set geralmente é “Bhangra”, que é uma das poucas coisas que unem a Índia e o Paquistão, em que a música eletrônica é marcada fortemente pela identidade cultural. A nova onda de cúmbia eletrônica, ou mesmo as coisas do Brasil, como funk carioca, o tecnobrega de Belém do Pará, o som que a galera ta fazendo aqui pelo nordeste, enfim. Então, rola um discurso que temos que mostrar outras possibilidades, em que você tende a fazer música eletrônica fora do eixo anglo saxão. Mas bacana é que as pessoas não conhecem essa música, e quando ouvem geralmente se divertem, e isso é bacana! É frívola, mas é legal assim! Junta as pessoas, e elas se identificam com aquilo! Então, a aparente frivolidade acaba indo por água a baixo quando você ver o poder de aglutinação tocando este tipo de música.


eu- Como você enxerga o Sindicato dos DJ’s que estão querendo plantar no mercado brasileiro, em que a partir da aprovação, vários DJ’s que não são profissionais, não irão poder tocar em diversas casas de shows. Você concorda com isso?

ele - Eu acho isso uma estupidez! Acho que nenhuma profissão que não ponha em risco a vida das pessoas, não pode virar uma coisa corporativa. Obviamente que seria muito legal regulamentar a profissão do DJ no país, para você ganhar benefícios socias, para você participar mais ativamente do mercado de trabalho. Mas, a gente não pode impedir pessoas de trabalharem nesta ou naquela profissão, até porque ser DJ não põem em risco a vida de ninguém, de arquiteto não põem em risco, assim como a de jornalista, publicitário, enfim. É horrível você proibir alguém talentoso de trabalhar porque ela não fez o “teste”, ou não pertence ao sindicato, acho isso monstruoso! Então, é legal que tenha opção para quem quiser, mas não pode ser intolerante.

acesse o myspace de Dolores: www.myspace.com/djdoloresaparelhagem

4 comentários:

João Reis III disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Reis III disse...

Lorena,
muito legal mesmo conhecer a opinião do DJ Dolores. Ele é inteligente pacas e com opiniões que dão novos horizontes para os pontos em que vc encosta o cadeeiro.
Bravos!
João Reis
mitologia-do-amor-selvagem

Unknown disse...

Valeu, Lorena
Gostei muito de conhecer mais sobre os pensamentos do DJ Dolores, vc introduziu super bem, o caro mandou ver e não precisou de muitas palavras.

Paz e AMor no Planeta Terra

Dani Souza
Tribo do Sol

ASSOCIAÇÃO CULTURAL NEGRA RAIZ disse...

fazemos sim trabalhos culturais meu tel:073-81338278 prof:Rafael
rafaelgcruz.10@gmail.com